Ao chegarmos emTelAviv, o nosso guia, Adi Eshed, comentou que teríamos um jantar surpresa na noite seguinte. Pessoalmente, eu não criei muitas teorias para o que poderia acontecer. Embora, outros membros da “comitiva” tupiniquim chegassem a elaborar “teses”, eu preferi aguardar o momento. Fomos levados até a área portuária de Jaffa, onde fomos apresentados a um novo conceito de culinária, sem sombra de dúvidas, uma nova e indescritível experiência.
O Jantar surpresa aconteceu num restaurante chamado Blackout. Nesse jantar o maior desafio não foi lidar com nenhuma comida exótica local, mas com a realidade cotidiana dos deficientes visuais. O convite era por algumas horas ficar cego, experimentar por alguns minutos um mundo sem luz, onde as experiências sensoriais são diversas das quais estamos acostumados. Enquanto eu era conduzido, pensava que seria interessante e imaginava saber o que seria ser cego, pensei: “é só brincar de fechar os olhos”. Acreditei que sabia o que iria acontecer, acreditei estar preparado.
Os olhos abertos e nenhuma luz, a sensação de desorientação, um relativo sentimento claustrofóbico; as sensações que tive nos primeiros minutos foram absolutamente diversas do que esperava. Algum tempo depois e com um gasto razoável de autocontrole, me adaptei. Iniciamos o nosso jantar, o comentário à mesa era sobre a dificuldade que as pessoas deficientes visuais vivem, e como realmente era complicado lidar com essa situação todos os dias. O ato básico da alimentação era um desafio, por muitas vezes o garfo chegava vazio a boca e um pouco sem jeito, lentamente, todos à mesa, foram admitindo que em alguns momentos recorriam ao uso das mãos. Comemos dessa forma despreocupados, rindo da situação inusitada. Já adaptado àquela circunstância específica quase me sentia confortável e de certa forma liberto de padrões, sabendo que ninguém poderia me ver. Voltei a ser criança e desavergonhadamente, admito, usei as minhas mãos sem me preocupar se havia lavado as mesmas, o guardanapo caiu, usei a toalha de forma tranquila para limpar as mãos.
Foi nesse momento, que o meu companheiro de mesa, Bruno Leal Pastor de Carvalho, uma das mais brilhantes mentes presentes no grupo, lembrou que as pessoas ali sentadas podiam usar as suas mãos para auxiliar na alimentação, no entanto, para o deficiente visual isso nem sempre era possível. As pessoas com deficiência visual sabem que são vistos e que devem ter um comportamento à mesa equivalente aos não cegos, ou seja, o que experimentávamos era um simulacro, uma aproximação da realidade dos cegos e não o seu cotidiano. O desconforto inicial voltou, eu quase senti vergonha de ter limpado as mãos na toalha, sai de lá com a sensação de que apenas imagino o que é ser cego, que o esforço de superação diário dos deficientes visuais e de todos os outros deficientes é intransferível. Não podemos acreditar que através de alguns momentos privados de visão possamos de fato compreender o que é viver assim.
Foi nesse momento, que o meu companheiro de mesa, Bruno Leal Pastor de Carvalho, uma das mais brilhantes mentes presentes no grupo, lembrou que as pessoas ali sentadas podiam usar as suas mãos para auxiliar na alimentação, no entanto, para o deficiente visual isso nem sempre era possível. As pessoas com deficiência visual sabem que são vistos e que devem ter um comportamento à mesa equivalente aos não cegos, ou seja, o que experimentávamos era um simulacro, uma aproximação da realidade dos cegos e não o seu cotidiano. O desconforto inicial voltou, eu quase senti vergonha de ter limpado as mãos na toalha, sai de lá com a sensação de que apenas imagino o que é ser cego, que o esforço de superação diário dos deficientes visuais e de todos os outros deficientes é intransferível. Não podemos acreditar que através de alguns momentos privados de visão possamos de fato compreender o que é viver assim.
Esse momento, no restaurante, reproduz o que vivi em Israel. Cheguei imaginando saber o que esperar, e fui colocado diante de circunstâncias novas, onde sinceramente, acreditei entender. Depois de alguns dias percebi que tinha a opção de voltar ao Brasil, que o meu cotidiano não era aquele, que por mais que imagine, por mais que tenha visto e estudado, não educo a minha filha numa escola onde as paredes são reforçadas, onde elas são treinadas para ataques a bomba, onde os jovens estão realmente dispostos e preparados para uma guerra. Onde o seu vizinho pode um dia ser seu algoz.
O que vivemos foi um simulacro, uma breve e parcial experiência da realidade, com certeza abrandada pela natureza da viagem e pela dedicação dos nossos anfitriões, em mostrar um país que vai muito além das guerras. Vivenciamos momentos incríveis e belos, encontramos um povo dedicado e fortemente vinculado ao Estado de Israel. Observamos o grau de organização desse Estado e de seu povo. Sentimos a necessidade que o povo Judeu sente em ter o seu Estado e a concepção de que sem esse lugar não há outro, o que, infelizmente a história em diversos momentos confirmou.
Quanto ao povo judeu, particularmente ao israelense, o encontro com o arquiteto Sergio Lerman, resumiu o que percebemos. Estivemos com Sérgio, conhecendo a arquitetura de Jaffo e TelAviv. Passeamos pela arquitetura turca, inglesa, árabe, pensando sobre a cidade branca, onde a escola de Bauhaus se fez tão presente. Aí então, surge da boca de Sergio a seguinte afirmação:“Estamos num país de fanáticos... de fanáticos pelo país”. Imediatamente o guia AdiEshed completa dizendo:“fanáticos não, e sim dedicados”. A minha reação e de maior parte do grupo foi sorrir, acredito que na verdade ambos concordavam. A semântica não mudava o sentimento que existe no coração dos Judeus, a dedicação e a vinculação com o Estado de Israel. Que sem dúvida, não passa somente pela questão teológica, ultrapassa em muito o fato religioso. A chama acesa pelo movimento sionista no século XIX, liderado Theodor Herzl, sem dúvida permanece vibrante. Essa chama ainda arde, mesmo com todas as suas contradições.
Quanto ao povo judeu, particularmente ao israelense, o encontro com o arquiteto Sergio Lerman, resumiu o que percebemos. Estivemos com Sérgio, conhecendo a arquitetura de Jaffo e TelAviv. Passeamos pela arquitetura turca, inglesa, árabe, pensando sobre a cidade branca, onde a escola de Bauhaus se fez tão presente. Aí então, surge da boca de Sergio a seguinte afirmação:“Estamos num país de fanáticos... de fanáticos pelo país”. Imediatamente o guia AdiEshed completa dizendo:“fanáticos não, e sim dedicados”. A minha reação e de maior parte do grupo foi sorrir, acredito que na verdade ambos concordavam. A semântica não mudava o sentimento que existe no coração dos Judeus, a dedicação e a vinculação com o Estado de Israel. Que sem dúvida, não passa somente pela questão teológica, ultrapassa em muito o fato religioso. A chama acesa pelo movimento sionista no século XIX, liderado Theodor Herzl, sem dúvida permanece vibrante. Essa chama ainda arde, mesmo com todas as suas contradições.
A expectativa inicial era encontrar um país marcado pelo conflito, o nosso olhar estava atento a qualquer manifestação das querelas e disputas. Estava, sinceramente, pronto para ver a segregação e discriminação e até a violência para com os Árabes. Conversava com o Prof. Rui Alves Gomes de Sá, para que estivéssemos atentos às manifestações segregacionistas, e que tínhamos que observar com atenção a relação entre Árabes e Judeus. Buscamos ver os muros, as barreiras, e sem grande dificuldade encontramos. Os muros no aeroporto com a sua rígida segurança, muros nos olhares, nas armas que insistiam em aparecer nas mãos de jovens. Nós vimos os muros, mas também enxergamos pontes. O esforço dos nossos anfitriões em nos mostrar as ligações, os esforços de integração, eram evidentes. O esforço sem dúvida foi recompensado. Enxergamos as pontes, e reconhecemos os esforços desse Estado constantemente ameaçado em estabelecer o diálogo e em dividir de alguma forma suas conquistas e seu espaço.
O texto foi organizado pelo Prof. Rui Alves Gomes de Sá, Diretor de Ensino do Curso e ColégiopH, escrito com a minha colaboração e abrilhantado com pequenos textos dos nossos anfitriões Ruth Appenbaum e Ariadne Jacques, o que segue são breves comentários sobre as experiências vividas, onde simulamos viver Israel, onde olhamos a ponte por um único lado. Onde conhecemos um único lado do muro, e nos encantamos, sem, no entanto, esquecer que esse é apenas um dos lados do muro.
Claudio Ribeiro Falcão
Coordenador de Geografia do Curso e Colégio pH.
2 - MUROS E PONTES
Não é de
hoje que a geopolítica do Oriente Médio é conturbada e causa espanto pela
tamanha reincidência de conflitos. A questão que envolve a região conhecida
como Palestina, entre a costa oriental do Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, é,
sem dúvida, o maior desafio para a consolidação de Estados soberanos,
democráticos, legítimos e representantes de uma nação no Oriente Médio. É sabido
também que o Oriente Médio enfrenta outros desafios de ordem geopolítica na
atualidade. Como exemplos: a teocracia no Irã, a falta de um Estado
representativo para os curdos, a instabilidade no Iraque, o domínio do terror e
do fundamentalismo religioso no Paquistão e Afeganistão e as democracias
fajutas ou ditaduras escancaradas em outros países árabes, que hoje estão
caindo e não sabemos bem para onde vão. A preocupação de que a queda desses
regimes possa levar ao poder grupos extremistas e intolerantes é real e
absolutamente válida.
Israel
está no que alguns diriam que é o coração do problema. Esse cenário, que
envolve a região, é impulsionado pelas disputas territoriais, políticas e por
recursos naturais (água, petróleo, etc.).
Israel
e o hebraico moderno: um jovem país e sua antiga língua
Pode-se dizer que a capacidade de se expressar através de um
código estruturado, de uma língua, é o ponto central que diferencia os seres
humanos de todos os outros seres vivos que integram o ecossistema. A linguagem
é a faculdade de expressão à qual grupos de pessoas recorrem para
entrar em contato com os outros, através de algo que lhe é próprio e que é
parte necessária de seu mundo e da sua convivência com as outras pessoas.
Apresenta-se nas modalidades oral e escrita, todavia, uma língua é
muito mais do que uma mera ferramenta de expressão. Na verdade, é através da
língua que as pessoas expressam sua interioridade, sua concepção do mundo, e é
assim que um determinado código passa a ser a manifestação do povo que o fala,
tornando-se um instrumento de interação, para que uns transmitam aos outros
suas realizações. Por essa razão, a língua está intrinsecamente ligada às
identidades e às culturas humanas.
Segundo vários estudiosos, sabe-se que o
povo judeu utilizou o hebraico como língua falada, até o período de exilio da
Babilônia (cerca de 586 a.C), quando passou a falar as línguas nacionais
dos países onde foram morar. Apesar de terem abandonado a língua hebraica
falada, ainda assim mantiveram sua identidade através da tradição, cultura e
religiosidade comuns, escritas nos textos bíblicos, nas orações, e na
literatura, etc. O hebraico vinha sendo utilizado, desde então, como elemento
de manutenção e não de comunicação no dia-a-dia, e, dessa forma, mesmo antes da
criação do Estado de Israel, o hebraico já́ podia ser considerado, e certa
forma, como um fator de constituição da identidade judaica, e foi este uso
contínuo de um idioma comum que propiciou a integração entre os judeus de
diferentes nacionalidades.
Todavia, o
renascimento do hebraico, como língua falada, ocorreu, no final do século XIX e
começo do século XX, quando voltou a ter status de língua nacional,
depois da independência de Israel, em 1948. O principal responsável por sua
reconstrução foi Eliezer Ben Yehuda (1856-1927), um judeu de origem russa, que
soube estabelecer um forte vínculo entre a necessidade de uma pátria para os judeus
e sua antiga língua, o hebraico, que poderia ser utilizada como instrumento de
unificação. Para construir o hebraico moderno e dar-lhe status de língua
nacional, Ben Yehuda recorreu a alguns elementos do árabe, do ladino, do
iídiche, e de outras línguas ocidentais. Atualmente, o hebraico e o árabe são
as línguas oficiais de Israel, e ambas pertencem ao tronco semitas. O escrito
mais famoso, escrito originalmente em hebraico, é o Tanakh, que constitui a
base das Escrituras Sagradas, e as cópias mais foram encontradas entre os
Manuscritos do Mar Morto, datados dos séculos II a.C ao I d.C.
Ariadne Jacques
Palestina
é o nome da região que hoje abriga o Estado de Israel, alguns territórios
palestinos, partes da Jordânia, do Líbano e da Síria, como se vê no mapa a
seguir.
Trata-se de uma área estreita que vai do Mar Mediterrâneo
à planície do Rio Jordão, que deságua no Mar Morto, fronteira com a Jordânia.
No sentido latitudinal, compreende do paralelo 31°N ao 33°20’N, estando,
portanto, inserida no hemisfério Norte, acima do Trópico de Câncer. Predominam na região os climas semiárido e
mediterrâneo. Contudo, por encontrar-se numa faixa subtropical (do Trópico,
até 40°) e cercada por montanhas mais altas, como as do Líbano e o Planalto da
Arábia, a Palestina também apresenta seus desertos. O relevo funciona como
barreiras para que o ar úmido chegue à região. Mais ao Sul da Palestina pode-se
observar o Deserto do Neguev e ao Norte, na região da Galileia, o deserto da
Judeia. A vegetação original foi em parte retirada para dar lugar às imensas
lavouras, muito bem sucedidas apesar do semiárido e dos desertos. A propósito,
atualmente a paisagem desértica se alterna com longas estepes mediterrâneas.
Pudemos experimentar a paisagem desértica e semiárida,
entramos no deserto da Galileia, fomos ao Mar Morto e as Cavernas de Quram. A
paisagem é bela, fascinante e intrigante. Olhando para as diversas Tamareiras
ao longo da estrada e observando o relevo árido, o primeiro pensamento que nos
ocorreu foi sobre a importância da água, acostumados à realidade brasileira,
onde temos fontes abundantes, o choque é inevitável.
Foto do Deserto visto da fortaleza de Massada. |
Um
tema de fundamental importância para evitar erros na compreensão dos eventos
geopolíticos na Palestina e a disposição dos recursos naturais na região. Antes
de qualquer outra consideração, é preciso destacar que, com exceção da água,
muito pouco dos conflitos na área envolvem disputas por extração de recursos
naturais. O Oriente Médio é a região que mais produz e exporta petróleo no
planeta, no entanto, tais fontes não estão na Palestina. Não há uma só gota de petróleo na região. Logo,
judeus e árabes não estão em confronto há quase século por controle de reservas
de petróleo. A maior parte da Palestina está sobre Escudos Cristalinos do
formados no Pré-Cambriano, e a única grande riqueza mineral que figura na
região é o diamante. Israel é o maior exportador de diamantes lapidados do
mundo. Contudo, boa parte chega bruto, importado de outros países. A cidade de
RamatGan, vizinha deTelAviv, é a sede da bolsa de diamantes de Israel e essa
indústria contribui vigorosamente com a economia nacional.
Outra conquista impressionante dos
israelenses – já que nos territórios palestinos o tema ainda é um desafio – é a
grande produção de alimentos. A
agricultura que começou nos assentamentos agrícolas comunitários de judeus que
migraram para a Palestina ainda no séc. XIX(os kibutzim), e floresceu com trabalho intensivo
sobre a terra, ainda que sem muita tecnologia é destaque.
Durante a nossa estadia tivemos a oportunidade
de visitar o Kibutz Sa’ad, próximo à Faixa de Gaza. A organização comunitária
fica evidente logo no primeiro contato, a localização faz com que o conflito
fique evidente nas construções e nas palavras dos seus moradores. O Kibutz por
diversas vezes foi alvo dos mísseis palestinos, oriundos da Faixa de Gaza, após
conflito instaurado. As construções sofreram e ainda sofrem uma série de
adaptações em função dos conflitos com os territórios palestinos, mais
especificamente na Faixa de Gaza. Em diversas ocasiões este local foi atingido
por mísseis árabes. Vale observar o teto das escolas e a construção de quartos
especiais preparados para eventuais ataques.
Casas
no Kibutz Sa’ad
|
Quartos
construídos em anexo as casas – “minibunkers”
|
Vista
do telhado da Escola
|
Kibutz Sa'ad com Faixa de Gaza ao fundo |
Com a criação do Estado de Israel, os investimentos na
agricultura aumentaram substancialmente e com eficientes técnicas de irrigação
os israelenses ensinaram ao mundo “como se rega a horta com pouca água”. Terras
áridas foram, portanto, transformadas em agricultáveis e o setor hoje é autosuficiente
para a população do país. O uso de tecnologia na racionalização da água parece
ser o grande segredo. Tanto que os campos estão cheios de sensores de umidade –
que interrompem a irrigação quando o solo já está suficientemente úmido.
Com uma agricultura intensiva e moderna, Israel chega até
a exportar alimentos. Destaque para a fruticultura, legumes, verduras e
cereais. Em contrapartida, o país importa grande quantidade de commodities, com
destaque para os combustíveis fósseis e água mineral. Vale lembrar que os
israelenses há tempos já usam a cara tecnologia de retirada de sal da água do
mar (dessalinização).
Com mais de sete milhões de
habitantes, Israel apresenta um dos melhores indicadores socioeconômicos do Oriente
Médio: com média de 0,872, o país possui elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os serviços de saneamento ambiental
são destinados à maioria das residências, fato que reflete na baixa taxa de
mortalidade infantil: 5 para cada mil nascidos vivos. Outro destaque é a
educação, onde 97% dos israelenses são alfabetizados.
A economia nacional se fortalece com a ajuda financeira dos Estados Unidos
(EUA) e com o envio de dinheiro de judeus que vivem no exterior.
Dentro desse país que apresenta uma economia
pulsante vimos os “muros” e as“pontes” sendo construídas; radicalismo e
tolerância sendo trabalhados de forma igual. Foi claro perceber as duas
situações opostas vividas por Israel.
OS MUROS
Como já foi dito nos deparamos
com diversos muros. No entanto, o muro da Cisjordânia se destaca. A sua
construção é resultado da intolerância e da violência que persiste, sendo a sua
construção e os motivos que levaram a sua existência um dos maiores obstáculos
ao diálogo e a tão desejada paz.
O muro construído em torno e por
dentro dos Territórios Palestinos ocupados, essa muralha de concreto serve sem
dúvida para garantir um espaço mais seguro aos Judeus. Segundo o
governo de Israel, a cerca tem o propósito de evitar a infiltração de terroristas
nas áreas israelenses. Todos os Israelenses com os quais conversamos
confirmaram que a sensação de segurança aumentou em muito com a construção do
muro e que de fato, o número de incidentes diminuiu. Já para a Autoridade
Nacional Palestina a cerca visa criar um fato consumado e incorporar partes dos
Territórios Palestinos ao território de Israel. O muro é chamado de “Cerca de
Separação” ou “Cerca de Segurança”, pelo governo israelense. Já os palestinos
geralmente se referem à barreira como “Muro de Segregação Racial”.
Passamos ao longe e ao longo do muro, e tivemos a
oportunidade de debater com o jornalista Israelense Amotz Asa-El acerca dos
conflitos árabe-israelenses. Essa conversa deixou claro, em nossa opinião, que
a paz parece distante. Os esforços existem, o desejo existe, no entanto, a
incapacidade de enxergar o outro, as motivações do outro e as necessidades do
outro, ainda persistem tanto em segmentos Árabes como Israelenses. Ouvimos o
lado Israelense que, como não poderia deixar de fazer, destacou as iniciativas
Judaicas em busca da Paz. Com certeza o esforço de Israel para a paz se chocam
com a falta de coesão e organização política por parte dos Palestinos.
Ao observarmos o quadro político em Israel, nos
parece que o discurso político tem se suavizado. Partidos que historicamente
priorizavam o “conflito”, tem assumido uma postura mais branda e favorável a
negociação com os árabes, obviamente desde que isso não coloque em risco a
segurança e soberania absoluta do Estado de Israel.
AS PONTES – “O mundo existe unicamente graças ao sopro das
crianças na escola”.Talmudda Babilônia, Shabat, 119b.
Os muros eram fáceis de serem
vistos, mas com um pouco de esforço vimos às pontes. Importantes pontes,
inclusive. Visitamos universidades e escolas lindíssimas não só em termos de
espaço/infraestrutura, mas também, em termos de aplicação da educação.
The Open Universityof Israel, o Davidson
Institute of Science Education e uma escola pública totalmente digital, Tichon
Net, são exemplos concretos de uma nova ideologia propagando a paz e a união
entre os povos. Em Todos os espaços educacionais, pudemos observar a presença
de estudantes e professores árabes.
Visão do Interior da Escola - Tichon Net
|
Durante a visita à escola Tichon
Net, tivemos a oportunidade de conversar com o seu dinâmico e curioso diretor Yoram
M Kalman, a afirmação desse dedicado professor nos traz um sopro de esperança
para uma situação tão delicada vivida nesse local. Segue o discurso:
“Israel pretende levar à prática uma
igualdade de direitos e obrigações entre
meninos e rapazes (homens e mulheres)
e entre alunos de redes públicas laicas
e redes religiosas. O sistema educacional
não permitirá que nenhum grupo,
principalmente os grupos mais fragilizados
(fracos),
sejam injustamente prejudicados.”
São inegáveis os esforços
de integração que presenciamos. A educação foi apontada como o grande
instrumento para a construção de um futuro, senão pacifico, ao menos mais
próximo de um convívio sem conflitos diários e sangrentos. Saímos de Israel
convencidos da existência de cidadãos comprometidos com a educação e com uma visão
de mundo integradora e universal.
Israel
2013: Carnaval brasileiro no Mar Morto
Minimamente vestidos e pintados com máscaras negras, um grupo de
brasileiros passaram o carnaval 2013, no Mar Morto, em Israel. Cantando
famosas marchinhas do carnaval do Brasil, eles convidaram um grupo de idosos
israelenses, que flutuavam nas águas salgadas do Mar Morto, para se juntar
a eles na celebração.
Esse
grupo de brasileiros participou de uma viagem exploratória a Israel,
cujo objetivo era levá-los a experimentar a realidade israelense, durante
aqueles dias. Ao longo do trajeto, as pessoas visitaram diversos lugares, para
que pudessem representar os diferentes pontos de vista da vida naquele
país. Passearam entre o passado e o presente, entre o judaísmo, cristianismo
e islamismo; entre cidades, kibutz e moshav; entre o hebraico, o árabe, o
inglês, o amhar (a língua dos etíopos), além do português, e das muitas outras
línguas que podem ser ouvidas nas ruas de Israel.
Ouviu-se
diferentes depoimentos: o de um israelense, que nasceu em Jerusalém ; o de um
professor, do Instituto Waizman, que nasceu na Argentina, mas vive em Israel há
mas do 50 anos ; o de um arquiteto brasileiro, que vive em TelAviv há 40 anos
e o de uma etíope, que aqui chegou recentemente, entre muitos outros que
refletem a pluralidade dessa sociedade. Ouviu-se também o depoimento de uma
pioneira, nascida há 87 anos, em TelAviv, que participou da construção do
kibutz no qual ela vive até os dias de hoje.
Israel é
hoje a casa de todas estas pessoas, e elas estão muito orgulhosas de sua casa.
Estão orgulhosas com o fato de que, apesar de todas as dificuldades, a
sociedade israelense existe, é criativa, inovadora e tem sabido enfrentar seus
muitos desafios com dignidade. Todos se sentem orgulhosos de seus jovens,
pois eles dão continuidade e levam adiante os valores de excelência, assumindo
compromissos com o futuro, e assim contribuindo para a melhoria da medicina, da
educação, da arte, etc., para o bem de Israel e para o bem do mundo.
O israelenses estão felizes por poder compartilhar com os
brasileiros tudo isso. O que eles desejam é paz e alegria para todos os
cidadãos que vivem nessa região. Desejam, principalmente, que os vizinhos
palestinos possam sentir, algum dia, orgulho da casa que eles também podem
construir aqui. Os israelenses agradecem pela alegria brasileira que o
grupo trouxe a Israel e espera vê-los de novo algum dia.
Ruth Appelbaum – doutora em História da Arte ( especialização
em arte islâmica e cultura )
3 - CONCLUSÃO
Quando pensamos escrever
esse texto a primeira e tentadora ideia era fazer uma retrospectiva dos
conflitos das diversas guerras e dos acordos de paz. Percebemos que se assim o
fizéssemos estaríamos reproduzindo um erro, compreensível, mas grave. Reduzir
Israel e toda a Palestina, e mesmo os povos Judeu e Árabe, ao conflito.
Rio Jordão, local de batismo de Jesus Cristo |
Vimos em Israel um Estado
organizado, tecnologicamente desenvolvido, preocupado com a integração de
diversos segmentos sociais (não só árabes, mas também dos judeus oriundos da
Etiópia, que representam a base da pirâmide econômica do país). Cabe ressaltar
que visitamos um centro de apoio aos judeus etíopes, essa emocionante visita
merece, deveras, um tratamento especial. Quem sabe um próximo artigo?
Em Jerusalém, pudemos
sorrir e barganhar junto aos árabes, que insistiam em tentar falar português enquanto
passeávamos entre as suas lojas. Eles
diziam que éramos bem-vindos(menos nas mesquitas da esplanada, onde a entrada
continua fechada aos não muçulmanos).
Convivemos diariamente
com dois Judeus israelenses (Adi e Ruth) e uma Judia brasileira Ariadne, que a
todo momento demonstraram o seu amor e comprometimento com o Estado de Israel,
sem no entanto, estarem cegos para idiossincrasias existentes. Quando estávamos
em Jerusalém fomos avisados sobre a “Síndrome de Jerusalém”: doença mental (ou seria
uma iluminação?) que atinge muitos peregrinos, que passam a vida na Terra Santa
pregando e tendo visões. Loucos ou iluminados? Não sabemos ao certo, mas com
certeza apaixonados pela cidade dourada e suas histórias. Hoje, sem esquecer as
contradições, sem esquecer que existem diversos muros, sem em nenhum momento
apagar da memória a existência de um outro lado que não foi visto, temos que
avisar a todos que pretendem visitar esse país - Cuidado com a Síndrome de
Israel, vocês podem se apaixonar !
Shalom!
Claudio Ribeiro Falcão (
Coordenador de Geografia do Sistema pH de Ensino) e Rui Alves Gomes de Sá (
Diretor de Ensino do Sistema pH de Ensino)
4 – LUGARES
INESQUECÍVEIS
Em anexo algumas fotos com breves comentários,
feitos pelo Prof. Rui Alves. Algumas das fotos usadas foram tiradas por membros
da comitiva. Agradecimentos especiais ao Mauricio Loiola Pinto e Alexandre
Busco Valim pelas excelentes fotos.
Visualizamos a igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus
teria sido crucificado, enterrado e ressuscitado. É um local que pessoas do
mundo todo peregrinam e conhecem todo o sacríficio feito por Jesus.
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Outro local sagrado é o Muro das Lamentações, única
estrutura restante do Grande Templo, sagrado para os judeus, que dividem o
espaço com turistas de outras religiões para rezas.
|